|:| Corpus Compartilhado Diacrônico: cartas pessoais brasileiras |:| Célia Lopes {celiar.s.lopes@gmail.com} e Silvia Cavalcante {silviare@gmail.com} |:| carta 06-OC-12-04-1891 |:| Autor: Oswaldo Cruz |:| Destinatário: Emilia |:| Data: 12 de abril de 1891 |:| Versão modernizada |:| Encoding: UTF-8 Miloca Olha para elas e pensa em mim . Jardim , 12 de abril de 1891 Querida e boa Miloca Hoje é Domingo , dia consagrado ao descanso e aos divertimentos ; só eu não descanso , só eu não me divirto ; longe de ti não sei o que seja descanso , o que seja diversão . Recebi hoje a tua carta datada de 10 ; como sempre , meu anjo , foi ela um bálsamo lançado sobre a ferida sangrante de meu coração . Tu achas , minha Miloca , Caxambú triste , escuro , sem sol ; pois , olha , para mim , o nosso bom Jardim está pior ainda ; há trevas completas : o sol vivificante que aquecia e dava vida á minha alma , desde o dia 9 que desapareceu , e sabes para onde ele foi ? foi para aí mesmo , para Caxambú , que , agora , é para mim o único lugar em que eu poderia viver feliz . Perguntas-me , minha boa Miloca , quando faço exames ? infelizmente talvez não seja tão cedo , e , por isto , meu anjo , mais uma vez te peço que voltes , voltes o mais breve possível ; mesmo porque longe de ti acho-me sem coragem e desfaleço todas as vezes que penso em afrontar as vicissitudes das provas de um exame . Minha Miloca , eu sei quão grande é o amor que te dedica tua boa mãe , sei do que ela é capaz para te poupar um instante de desgosto ; pois bem , valha-te deste amor , exige dela um sacrifício , para que te traga para aqui , onde ficou [pag] um coração , cujas fibras são arrancadas todos os dias no meio das mais lancinantes dores , e , que não pode sair daqui por causa mesmo do grande amor que te tem . Descreve-me com verdade , a vida que passas aí ; o que fazes durante o dia e principalmente durante aquela primeira parte da noite em que estávamos juntos ? Quem sabe , minha Miloca , se estás tão resignada a ponto de te esqueceres por alguns instantes que eu existo ? Não mil vezes não , não o creio ; tu dizias me amar tanto que isto é impossível ; nunca , desculpa , meu anjo , estas minhas loucas palavras . Felizmente todos aqui vão passando bem , [pag] atormentados tão somente por saudades tuas e de tua boa Mãe . Meus pais , irmãos , Dona Isabellinha e eu mandamos muitas lembranças a tua boa Mãe , a ti e a todos e tu minha noiva , aceita um abraço de teu inconsolável e saudoso noivo Oswaldo .